terça-feira, 19 de agosto de 2008

E o Rato dorme...


E dormindo, sonha...

E ao sonhar sente e ao sentir, olha e vê:

Contempla miríades de miríades de archotes, com chamas bruxuleantes a acena-lhe, inseridos, incrustados, na infinita imensidão e escuridão do céu.

Baixa os olhos e na luz das estrelas observa o seu mundo, tão conhecido e tão ignoto, pequeno o suficiente para que mesmo sob a luz estelar veja com clareza o seu caminho, o seu labor, os perigos; mas, e também grande, grande mais que o necessário para que nas escuras dobras, do dia ou da noite, more o insondável, o desconhecido.

Observa atento o caminho, rota tortuosa do seu dia-a-dia, a estender-se preguiçosa, sob a tênue claridade, serpenteando obstáculos até o seu destino.

Vê do aconchego de sua toca os perigos inerentes da jornada, mede suas forças para a empreitada, sente que o momento não é propício, a hora imprópria; seguro é o aguardo do amanhecer, afinal, quando a luz do dia chegar tudo será definido e a verdade se fara visível.

...

Argos em meio à poeira contempla o pó e a todos vigia, tudo vê com seus “mil olhos” quase eternamente abertos, mergulhados em negrume quase eternamente infinito.

Se alguma vez dormiu, foi ao som da lira de Morpheu a idos, em um momento na eternidade a muito esquecido no tempo.

Não deixou de ver o Rato em sua tosca alcova, perdida, alhures sobre um miserável grão de poeira estelar.

Se pudesse sorrir, sorriria com atitude do Rato, em sua prudência onírica, ao esperar a luz do dia, algo tão regional, tão localizado, tão pontual no espaço e no tempo!

...

Eis que vejo:

Um Rato, na sua fugaz e efêmera vida, desconhecendo a escuridão, a esperar pela luz do dia.

Um Argos, na sua aparente eternidade, escuridão e imensidão, uma luz que jamais verá um amanhecer.

Ambos os dois, em suas efêmeras existências, aguardam pelo dia que certamente há de chegar, mas só o Rato e somente ele pode dormir, só ele, o Rato, pode sonhar.

...

E então, o Rato dormiu mais uma vez!

E dormindo, sonhou de novo...


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