sexta-feira, 3 de julho de 2009

O que foi que mudou?

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O louco dinamarquês, em um de seus solilóquios, questionava apenas o seu próprio e restrito mundo pessoal.

O maquiavelismo pertinente ao seu sombrio e pedregoso mundo, sobrepujava torpezas não menores de um mundo muito maior que o reino de seu morto pai e ora não seu, mas de seu vivo tio.


As vilanias ocorridas em um pequeno feudo, mesmo que tidas e havidas como fictícias, rendeu um ribombante texto que até nos dias de hoje é, apesar de ser uma enorme tragédia familiar, um sucesso literário.


Aí o Rato pergunta...


O que foi que mudou daquele medievalístico tempo para cá, tempos de matrix?


Posso eu ver no decorrer dos séculos a ficção e a realidade tornar-se una?


Seria por acaso apenas o cenário, cujas linhas retas tornaram-se circular e que os dois planos, o vertical e o horizontal a oscilar em tons de negro e cinza houveram metamorfosear-se em apenas uma esfera de superfície brilhante, multicolorida?


Não seria por ventura apenas os personagens que uma vez idos de volta ao pó e não como a Fênix dele tenham assim ressurgidos em outras vestimentas, em outros tempos?


O conluio das hipóteses não seria o mais correto, viável?


Seria então apenas a universalização do palco em uma diversidade tão espantosa de atores e contos que concomitantemente e a cada um de-per-si cabe interpretar a sua parte, seu próprio conto em um conto maior em meio a infinitas outras partes, uma representação diuturna interminável, regida ao ritmo infernal de gritos, murmúrios, gestos, lágrimas, sorrisos, ranger de dentes, alegrias, tristezas, nascimentos... Mortes?



Era procedente o problema em que se empenhava o infeliz príncipe.


Ser ou não ser...


Definitivamente esta é a questão posto que hoje em dia nem ser, nem não ser é a posição!


Seja qual for o posicionamento atual do Eu, nos dias de hoje nada mudou em relação os dias de outrora a não ser as aparências, a semântica, o significado do supérfluo e a contagem do tempo; no demais, predadores continuam predadores e o restante continua sendo a massa, o rebanho, os produtivos escravos, somente fonte de proventos para o predador alfa.


Mas a aparência...


Ah... Esta sim, como mudou!


Houve tempos e lugares em que se olhando, raramente haveria qualquer confusão na distinção entre o bem e o mal e o homem honrado, seguia por caminhos claros e a sua aparência o seu semblante, revelava o seu caráter, a sua nobreza mesmo quando tinha por morada uma humilde e distante choça megalítica.


A fala e a escrita também estiveram e estão a cambiar, o que é natural!


Houve tempos em que ouvindo a fala de uma pessoa mesmo que iletrada, era quase impossível confundir as boas e as más falas ou escritas, pois eram estes oradores, escribas, orientados por princípios de ética e moral inatacáveis, sensatos e perfeitamente claros a todos e sem sofismas, senão quando a retórica assim o pedisse em nome da arte da fala e da escrita aí, o sofisma ensinava o homem, mas não o corrompia.


E as prioridades morais do ontem que já não mais são as prioridades morais do hoje e se evolução o foi, esta é de um caráter muito tendencioso ao espúrio, ao vulgar, ao frívolo e ao inconseqüente.


Houve tempos em que o homem dava ao homem o valor que lhe era natural, o homem era conhecido e valorizado por seus atos não por sua aparência, berço, título, retórica ou ainda, posses.


Hoje o valor do homem está no supérfluo que possui, que produz, nos títulos que tem e no pedigree que lhe é próprio mesmo que forjado visto não ter, o individuo de hoje, nenhuma outra prova ou qualificação da sua idoneidade de caráter e de lastro cultural, cultura esta que quando proclamada pode nos dias de hoje ter sido comprada sob o sol descaradamente, sem nenhum pudor por parte dos envolvidos no vil negócio.


Enfim, quanto mais supérfluo for o individuo, mais supérfluos possuir ou ainda puder destilar maior será o seu valor na sociedade, neste maravilhoso mundo novo.


É...


Já houve tempos no entanto, hoje é o tempo e neste hiato o que mudou alem do fugaz agora?


Mesmo por que o agora nada mais é que a linha geométrica separadora dos planos, também geométricos, que são o passado e o futuro.


Não creio que nem mesmo que aquilo que ha de mais abominável dentro do homem tenha se alterado nem para menos nem para mais.


Receio, isto sim, que no processo de "crescei, multiplicai e enchei a Terra" um gene que originalmente era recessivo se tornou ou está se tornando dominante.


Genética!


Filosoficamente falando (escrevendo no presente caso), temos aí uma manipulação da genética do Eu, tanto do Eu individual como do Eu coletivo.


O que me preocupa é que esta manipulação não está me parecendo natural, temo que esta modificação esteja sendo feita pelo homem e isto, se assim o for, certamente não trará consigo um final agradável para ninguém.


As coisas de origem natural criam processos outros, concomitantemente ao processo de criação, que no contexto geral leva ao equilíbrio entre as partes envolvidas, quando algo não acontece de forma espontânea ou, este evento natural sofre interferência extranatural, não há uma contra partida equivalente no processo da mutação, originando-se aí um desequilíbrio entre as partes que fatalmente será corrigido pela mãe natureza no decorrer do tempo pertinente ao processo, quer o homem queira ou não.


O ônus desta correção certamente estará fora do controle humano.


A natureza não premia o erro como soe acontecer entre os humanos, errar na natureza significa a extinção, via de regra sumária, do agente que está fora dos parâmetros naturais do meio em que vive, seja ele qual for.


Em assim sendo, esta inversão total de valores humanos que vem ocorrendo no planeta e em uma progressão geométrica, quase astronômica, não terá um desfecho feliz para ninguém, nem para os elementos componentes da massa, que pelos princípios da relação social dominante são perfeitamente dispensáveis, nem para o predador e sua prole que na mesma relação são os elementos indispensáveis que a sociedade deve proteger a qualquer preço.


É a espécie humana que vai arcar com o ônus da correção e certamente haverá dor e ranger de dentes mais que suficientes para todos desta esfera e pelo andar da carruagem, tempos há de vir em que se procurará a morte para o refrigério do corpo, da alma, do espírito e ela não será encontrada na Terra nem fora dela.


Ainda bem que o que foi criado no princípio não sofre aumento nem diminuição, no máximo se transforma, cresce ou diminui no espaço que ocupa, podendo também ser cíclico no tempo em que esta inserido; por isso esta faze, este pesadelo, fatalmente irá passar e extinguir-se no decorrer do tempo que lhe é próprio.


O que lamento é o sofrimento desnecessário causado aos inocentes úteis decorrentes da primazia que se dá sobre qualquer coisa, inclusive sobre vidas humanas, para a ganância de uns poucos, os interesses de minorias espúrias e anônimas e a um egoísmo individualista e mundano.


Estas primazias são facetas, características, um legado do primitivismo moral da espécie humana, que insurretas à evolução da raça se que alimentam da ignorância, da incompetência pública ou privada, da irresponsabilidade estatal ou não e de crimes que beiram a barbárie, primazias estas deveriam ser no máximo, ultrapassando todas as hipóteses possíveis, recessivas no caráter do individuo integrante de uma civilização que se autoproclama "Humana".