domingo, 28 de fevereiro de 2010

Ratrix – A Máquina Final


Um dia o meu amigo levou-me a sua morada, ao seu tempo, sentia-me como que guiado por um Virgílio.

E la como tudo fora ontem, é hoje e será amanhã, vi o que os olhos não sabem ver, senti o que os sentidos não conseguem sentir, ouviu o que os ouvidos não podem ouvir, mas sabia não estar a viagem em seu início mas ao fim.
Levou-me até sua morada, a qual tinha duas frentes e uma delas olhava para o oceano por sobre uma larga alameda e a outra contemplava a morada à sua esquerda através de jardins e por sobre um rio caudaloso. O fundo de sua morada, estremo oposto ao oceano, estendia-se paralelo ao rio e unia-se a este no horizonte, o fundo oposto a frente esquerda da moradia vi e não sei como descrever.

Tomou-me a mão, meu guia, e levou-me ao alto de sua morada e de lá vi muitas outras moradas a direita daquela que visitava e todas de cima para baixo.

Não havia lugar nas moradas que eu não pudesse ver e quanto mais longe eu olhava mais entendia o que via, todas tinha duas frentes como a de meu amigo, uma das frentes sempre olhava para o mesmo oceano da morada em que eu estava e à esquerda de cada uma havia um rio caudaloso, antecedido por um jardim, alguns rios eram muito rápidos outros tão lentos que pareciam não se moverem e nenhum deles era igual ao outro, todas as moradas acompanhavam o rio que ficava em seu jardim até o horizonte e a última morada, nesta alameda, tinha o número Ꝏ-1.

Voltei o s meus olhos para a morada a esquerda da qual me encontrava e a olhei mas não pude vê-la nem mesmo ver além dela pois era mais alta do que a morada em que eu estava.

Ela me via e me compreendia mas eu via apenas e tão somente a face que para mim estava voltada nada mais e ainda nada do que via tem como ser descrito.

Meu amigo sorria ante a minha impotência em me expressar e para diminuir a pressão que sentia mostrou-me o oceano e me disse que ele era conhecido como o oceano da criação pois era dali que vinha tudo o que conhecia e o rio que passava pelos jardins de sua morada era como um relógio pois corria conforme o tempo corria na sua morada por isso era chamado de o rio do tempo.

Mas isso eu já sabia!

Tomando a minha mão levou-ma para a larga alameda pois dali levar-me-ia de volta á minha morada.

Antes de partimos, pisando sobre a areia da praia, olhei pela última vês a majestosa frente de sua morada ao mesmo tempo em que mergulhávamos na viagem de volta e a última imagem que vi foi o número da morada e ele é Ꝏ+1.


No negrume do nada vi um brilho, nele entrei e o seu interior era só escuridão, mas tudo era iluminado, como uma estrela invertida, a luz vinha de fora para o centro que embora muito distante e pequeno era senhor do espaço que o rodeava e a luz nos empurrava para ele.

Depois de o atravessa-lo nada era diferente apenas a luz que se tornou negra e o negrume do espaço que tinha-se feito luz e por mais uma vez o centro de tudo cruzei.

Seguia agora por entre um emaranhado de esferas interligadas por forças que nunca vira ou ouvira antes cogitar em tal magnitude de poder.

Elas ficaram distantes e sumiram.


Agora em em meio a um oceano de pequenas esferas diversas em equilíbrio perfeito vagava imensos cordões a contorcer-se como anacondas em cujos pés outra anaconda existia e a acompanhar, mas tudo ficou pequeno distante e sumiu, menos o oceano que apesar de outro me envolvia.

Pesadas máquinas de formas variadas moviam-se pelo oceano ligadas entre si pelo parentesco, pela origem e pela função.

À medida em que me afastava muitas outras vi e compreendi que um número quase infinito de outras ainda haviam a trabalhar em suas funções, sem se preocupar com nada mas dependentes uma das outras para existir, como as rodas dentadas de uma máquina ainda maior.

...
Há muito as pesadas máquinas e seus afazeres haviam sumidos na distância que para traz deixei, agora o máximo que via na escuridão do todo eram pequenos clarões a correr por todo o espaço que me rodeia e longas fibras diversas a vibrar e em muitos grupos diferentes os quais, cada um de-per-si como correias, fios, tirantes e suportes formavam algo que ainda não podia ver no meio em que me movia, o que eu fazia por sinal cada vez mais lentamente.

Meio que adormecido, vi meu amigo apontar-me uma uma armadura onde ele me vez entrar e os comandos assumir, sorriu para mim e foi-se como se por ali nunca ali estivesse sequer passado.


Sinto-me confortável e seguro, eu sou como uma luva para a armadura, sinto-a pulsamdo sob minha vontade com uma fome de obediência inimaginável, seu poder é enorme, sinto-me como um gladiador em sua armadura impenetrável.

- Um gladiador em sua armadura???

- Já não teria eu visto isso antes???

Olhei para mim mesmo, estava perfeito completo me sentia muito bem, mas estava dentro de uma armadura, uma máquina poderosa, como seria o mundo la fora desta vez?


Acionei os dispositivos corretos, a viseira levantou-se e eu pode ver onde estava.

É a minha morada, meu mundo, meu tempo, meu lugar, olhei para a armadura que havia cingido através da sua própria viseira:

Eu vi a a mim mesmo em uma aparente simbiose com a vida para poder existir.

Eu sou a máquina, eu sou a arma final, eu sou o meu maior e único inimigo!