terça-feira, 15 de novembro de 2011

E Deus fez a Luz...

  Antes do que foi relatado na postagem anterior (E Deus fez a Segunda escolha), era apenas a Essência; Essência que em um instante de tempo(1) antes do momento atemporal do relato, atingiu todo o seu infinito potencial de conhecimento; foi a partir deste momento até o momento da escolha o teor do relato.

    Agora, o que temos é a consequência da escolha.

    Assim que a escolha foi feita o todo se fendeu (partiu-se) nas infinitas partes que o compõe e estas por sua vez repetiu o feito que a antecedeu e o repassou a cada uma das infinitas partes que compunha o todo original (ora subdividido-se) após a si e isto se repete ate a cegada da parte mais elementar da Essência primordial.

    Neste ponto é a partícula elementar que transforma em temporal o atemporal, em substância a insubstância e em espaço o não espaço sem no entanto perder a sua individualidade.

    Uma vez completado o processo o elemento primordial funde em uma só “coisa” o que dele foi criado e une-se intrinsecamente a eles e a cada um deles; sem no entanto destruir-se, expande-se em focos de luz, sombras e matéria com todos os seus similares, opostos e suas consequências, potencializando tudo até o infinito.

    A partir deste ponto o sentido de tempo, espaço e matéria começa a fazer sentido e a existir dentro do contesto da criação, no instante seguinte a este momento inicia-se o universo em que vivemos.

    Isso ocorreu, ocorre e irá ocorrer em cada uma das infinitas unidades primordiais do todo, da Essência e nenhuma delas cria, criou ou vai criar um universo sequer semelhante a algum outro que existe, existiu ou vai existir.

    Neste ponto as lembranças coletivas mais remotas começam a ceder espaço para as lembranças coletivas da criação e posteriormente, muito posteriormente, os seus arquétipos.

 
Saturne, dévorant un de ses enfants.
Simon Hurtrelle, 1699, Le Louvre

    Estes universos primordiais são como pessoas isoladas em seus mundos; coexistem, sabem da existência uma das outras, podem até se comunicar mas ainda não se tocam ou interpenetram neste estágio e cada um deles contém em si os seus opostos, suas dimensões seus tempos particulares suas leis, suas regras e a sua identidade única.

    E Deus disse:

Faça-se a Luz(2).

 
… E a luz se fez ...

    Quando o clarão da criação se desfez a vida existia e tudo o que fora criado agora é vida, toda a vida que fora criada começa instantaneamente a evoluir, a adquirir conhecimento e cada uma delas ao seu devido tempo, à sua peculiar maneira, começou neste instante a caminhar de volta para casa, para unir-se ao seu conjunto original, atendendo assim ao irresistível chamado do lar, das origens, onde deve chegar um dia, para sempre, trazendo consigo a vivência de um conhecimento, completo, infinito(3).

    Neste momento o todo atemporal, insubstancial e indivisível estará para sempre completo ao infinito; não mais conterá o conhecimento e sim é, foi e será, tudo ao mesmo tempo, o conhecimento.

    Só aí você se descobrirá, se reconhecerá e conhecerá a verdade para então poder escolher:

    Ter todo o conhecimento ou ser todo o conhecimento(4).

(1) Toda a referência a tempo é apenas uma simples e mera figura de linguagem já que falávamos anteriormente e ainda estamos falando de eventos atemporais até quase o fim desta postagem.

(2) As referências a este processo criativo estão de tal forma dispersos pelas mais antigas escrituras e pelo mundo afora que fica muito complexo coloca-los em alguma ordem seja ela qual for;    não me parece prático, e isso para não dizer impossível, no momento ordenar de alguma forma as memórias do inconsciente coletivo da criação.

(3) A partir deste ponto o texto volta novamente a ser atemporal e imaterial como no início.

(4) A Criatura é só um sonho; apenas mais um sonho dentro da realidade fantástica que é o sonho do criador; e é esta criatura, é este sonho, que um dia também se tornará um criador.


São Paulo, 14 de novembro de 2011

Mkmouse




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