terça-feira, 6 de julho de 2010

O Parasitismo


Enquanto vou roendo os problemas do dia a dia, saboreando as guloseimas que a vida me oferece e contornando as pedras, obstáculos do meu caminho, vou pensando no que vejo, ouço, leio e sinto.




O burburinho alucinante de imagens, sons e sensações por que passamos acabam por desencadear em nós uma torrente de emoções cuja diversidade de sentimentos e reações pode chegar a ser inimaginável.


Na maioria das vezes, criaturas obstinadas permanecem um tempo indefinidamente longo procurando por soluções para questões com apenas uma ou duas soluções possíveis isso, quando não ficam agarradas a problemas, como se fossem eles as únicas tábuas de salvação para um náufrago, por um tempo tão longo que sem exagero pode chegar às raias do infinito.

Tais obstinadas criaturas, quando não se perdem por um labirinto de soluções quase todas só viáveis dentro da escura cegueira de seu olhar, dedicam-se à contemplação interminável, infinita, da questão a qual se tornaria absurda se vista à luz de uma singela vela, enquanto isso o tempo passa incontinente à criatura, quando não se faz findo neste ínterim.

É...

Temos um tempo para resolvermos os nossos problemas e ele não é infinito, é no máximo igual ao tempo de nossa vida útil.

Isto nos leva a uma questão secundaria mas sumamente relevante, o tempo. (o que por sinal desde há muito ninguém sabe às quanta anda).

Não vos falo aqui do tempo climático, circunstancial, pertinente a micro sistemas ou não e sim do Tique-taque que convencionou-se designar como o espaço entre um evento temporal e outro na linha evolutiva de cada coisa que existe.


Agora veja a contradição que este espaço, via de regra, trás consigo.

A ciência hoje, como ontem, prova que o conhecimento humano do ontem estava errado e no hoje diz o que é certo, com isso comete um um erro que será corrigido pela ciência do amanhã.

E por aí vai, o que nos trás de volta ao tema principal...

Hoje nós sabemos que a Terra não é o centro do Universo como era do conhecimento geral ontem, mas antagonicamente à verdade científica, comprovada, do que é a Terra hoje alem de nossa condução e casa, o Homem não se convenceu ainda disto e continua não só achando-se o “Centro do Universo” como, e também, agindo como se fosse o "Dono Inquestionável de Tudo"!

E como eu sei disso?

Pela potencialização infinita da importância que o homem dá a si mesmo em detrimento do que mais possa existir ou rodeá-lo.

Para o Homem uma pedra é nada além de uma simples pedra, o Homem é superior a ela pois é o Homem mais evoluído que ela, no que até tem rasão quando se trata da cadeia alimentar; nesta ele está no topo e as pedras nem mesmo fazem parte deste esquema evolutivo, elas são minerais! (pelo menos segundo a definição ditada pelo Homem)

No entanto este bípede implume há por seu bem próprio esquecer a lembrança de que não fosse a pedra esta espécie fraca e mal ambientada nem mesmo existiria na face deste planeta.

Alias se não fosse a proteção ativa, natural e incondicional desta esfera azul e “inanimada”, a vida como é conhecida nem mesmo existiria; o universo para a vida como conhecemos é de uma hostilidade que transcende e em muito o imaginável.

Até entendo a conveniência ao ego humano destes esquecimentos.

Quando o homem relega a pedra à condição da insignificância pura, esquece-se que não poderia sobreviver neste planeta sem ela e isso ainda nos dias de hoje.

É a Terra que deu à pedra e ao homem os componentes básicos de suas estruturas o que dela também é a parte primordial, não fez nesta doação diferença alguma entre a estrutura da pedra e da estrutura do homem salvo por pequenos arranjos nos padrões atômicos e nos arranjos subsequentes a estes que não só nos compõe, como é comum a ambos e a tudo o mais que é originário deste planeta..





Ambos os dois, homem e pedra, tem a mesma origem e a mesma forma em sua essência que a Terra; não são nada alem de núcleos atômicos rodeados a uma distância quase infinita por eléctrons e os conjuntos estes, espaçados entre si por distâncias ainda maiores.





Se fosse possível juntar toda esta “massa primordial” da Terra e tudo o que ela carrega consigo, todos estes átomos uns colados aos outros produziria um volume que talvez venha a encher um tabor de duzentos litros

E sabe como seriam as coisas dentro deste tambor?

Haveria uma miríade de núcleos atômicos que beira o incontável, constituídos de Quarks ainda menores, acompanhados de uma maior infinidade ainda de elétrons agora quase imóveis unidos uns aos outros, todos juntos, comprimidos ao máximo mas sem a perda da individualidade de cada elemento.

Se mais compridos fossem ainda, além de perder a identidade, se transformariam em um punhado de nêutrons, todos iguais entre si e ocupando um espaço ainda menor que na forma anterior.

Todos iguais entre si, seria o mais perfeito dos socialismos!



...


Por ventura o que torna o homem melhor que a pedra é a forma final e externa?

Pois a primordial e interna só se difere pelo arranjo físico e posicional no conjunto do qual é parte em relação aos outros conjuntos de núcleos e seus eléctrons; o conjunto homem é composto por uma miríade de elementos, uma impressionantemente heterogeneidade, no conjunto pedra é a fantástica homogeneidade que prevalece.

Como o homem pode ser melhor que a pedra se vive tentando ser igual a ela?

O homem não consegue ser sensato com sigo mesmo e menos o é ainda com a própria vida!


- Há!!!

Dir-me-ia alguém agora.

- O homem tem alma, espírito, (divina em alguns casos mui particulares de riqueza seja ela qual for) é uma criatura animada, viva e a pedra não tem vida além de nada dito do homem mais possuir!

Em assim sendo, a coisa fica pior ainda.

Em sendo homem e pedra primordialmente a mesma coisa com a mesma origem mas mesmo assim sendo o homem tão diferente da pedra é por que certamente o homem, a sua essência, é (ou são) estranho(s) a este planeta, um alienígena a usar, para aqui sobreviver, uma estrutura que não lhe pertence por natureza visto que certamente não é deste mundo.

O Homem é um E.T. que parasita a essência de uma pedra para sobreviver e ainda se acha melhor que ela!

...

Sabe, este rato não sabe o que é pior para o ego humano:

Não ser o centro do Universo e ser apenas mais um evento no contexto do todo Universal cujo propósito, cuja causa ou destino nos escapa hoje ao conhecimento ou, ser algo indefinível que para sobreviver como individualidade tem que imaginar-se o centro deste Universo e ainda precisa parasitar algo que nele existe, já que a simbiose me parece descartada definitivamente.

É...

A segunda opção me parece mais condizente com a ignorância abissal e o astronômico ego do homem.

É, neste momento que os sábios da Terra questionariam:

- Mas que sabe este simples roedor, da vida dos homens e de suas necessidades?!

- Afinal de contas, que autoridade tem este miserável mamífero para sequer pensar que pode pensar?

- Que títulos tem, esta ilustre insignificância, que o faz melhor que os PhDs, Doutores, Cientistas e demais Autoridades Devida e Legalmente Constituídas pela Sociedade para se expressar sobre a grandeza da espécie humana?

- Qual a sua Linhagem Social, Familiar; por ventura descende esta criatura de alguma longeva e (ou) importante família cujo peso e poder o faz suficiente para assim se expressar?


È...

Eu não sei nada da vida e menos ainda da vida dos homens.

É realmente, eu não tenho o conhecimento necessário sobre este assunto talvez, com alguma sorte, venha a ser eu um ignoto desbravador nesta área.

Títulos então, a não ser o de “vagabundo” dado por um presidente em algum lugar no passado, eu não tenho nenhum outro e este meu único, ainda o compartilho com muitas outras criaturas, algumas delas até mais desafortunada que este eu.

E por fim o meu pedigree, este sim nada tem de emocionante, exclusivo ou incomum à mais de noventa por cento da espécie.



...

É...

É definitivo!!!

Pelos parâmetros da “grandeza humana” eu sou um afortunado só por existir e ainda ter o bônus de fazer parte da espécie dominante do planeta.

Mas pelos parâmetros do Universo eu sou parte dele, eu compartilho com ele o seu destino e o seu tempo, a minha essência é comum à dele na sua infinitude e na sua pluralidade, eu existo porque o Universo existe, eu preciso dele para existir e quando ele se for, com ele irei também.

Esta é a minha autoridade:

A certeza intrínseca de que eu sou, como as estrelas o são, apenas um produto de estrelas outras nem um pouco diferente de tudo o que existe e possa ser imaginado existir, carrego comigo como tudo o mais que existe o Alfa, os meios e o Ômega da criação além de saber que não estou, nunca estive e nem estarei, sozinho neste Universo.

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