sábado, 14 de maio de 2011

Apologia à Ignorância


Eu ia deixar para falar sobre isso na minha revista www.mkmouse.com.br, mas não dá para esperar até o fim deste mês, realmente não dá, não dá mesmo!

***

Agora a apologia à ignorância é oficialmente patrocinada pelo governo federal.

O novo livro da Editora Global (Global?... porque será?!) foi aprovado pelo MEC por meio do Programa Nacional do Livro Didático e para aqueles leitores meus que gostam de estrume, de moda, do que “rola” no momento e do que é “politicamente correto”, nome do livro é “Por Uma Vida Melhor” da coleção “Viver, Aprender”.
Prova A

Eu sugiro que os senhores e senhoras que leem este texto saiam correndo de suas casas, deixem até mesmo de continuar a ler este texto e comprem o infame livro pois a Editora Global investiu uma “nota preta” na confecção deste BBB e na aprovação pelo MEC e agora está precisando recuperar os custos e ver o “cor” do lucro.

Para que não haja a menor dúvida que esta porcaria veio mesmo para ficar já chegou com um novo termo que é “O Preconceito Linguístico” a ele associado; não comprá-lo ou achar que o mesmo está errado agora é crime (ainda não eu acho... mas sei lá se já não existe uma lei sobre isso).

A pobreza dos editores e escritores brasileiros está chegando no seu ápice, para se fazer um livro que alem de incentivar, ensine a falar e escrever errado precisa de mais de autor, ou melhor autoras neste caso.

Só uma apareceu para dizer o seguinte: ...a intenção era deixar aluno à vontade por conhecer apenas a linguagem popular, e não ensinar errado.

É e ainda é professora, Professora Heloísa Ramos.


Mas em uma coisa ela tem razão: se em uma sala de aula deixar o aluno à vontade por saber apenas a linguagem popular, realmente não é ensinar errado, é não ter ninguém para ensinar este aluno, nesta sala de aula, que saiba mais do que ele sabe.


Como se já não bastasse a reforma ortográfica, falar e escrever errado virou correto e qualquer pessoa que tentar corrigir isso comete o um crime: o crime de preconceito linguístico.

O Brasil não mais é um país do futuro é um país do passado a correr vertiginosamente em direção à idade da pedra lascada onde todos nós nos expressaremos com diversos, sonoros e melodiosos “Ug...Ugs... Buga... Bugas...” e para comunicação a maior distância usaremos os moderníssimos pedaços de pau que presos (seguros) por nossas mãos que após um processo de alavanca feito por nosso braço venham a se chocar com algum tronco caído e oco que encontrarmos eventualmente caídos pelo chão.

O Brasil não é mais um gigante adormecido, é um anão de joelhos que ao invés de se levantar, andar para sair desta imundície, crescer, tenta desesperadamente encontrar uma forma mais eficiente de rastejar como um verme, na gosmenta e asquerosa lama politica que o rodeia.

(1)Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague.
Brasil

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Graças à nova ortografia brasileira a sentença que escrevo abaixo não poderá ser entendida corretamente, simplesmente porque foi escrita e não falada.

- Embaixo deste coqueiro há diversos cocos.
Prova B

(1)Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague.
Brasil

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Querem uma visão do futuro?

Vou lhes dar uma, e a que provavelmente irá acontecer em algum momento no futuro se é que ainda não aconteceu, graças à revolucionaria ideia de um “grupo de camaradas unidas” com o apoio da Editora Global e o aval do MEC.

Cenário:
    Um tribunal.

Atores:
    Um “fantástico” grupo de figurantes muito atentos ao desenrolar da trama
    Um Juiz
    Um Juri
    Dois advogados
    Um réu

Motivo da trama:
    Um assassinato múltiplo, com premeditação e requintes de crueldade.

Cena única:
    O Juiz pergunta ao réu:

    - Consta dos autos que o senhor foi no local onde morava as vítimas e lá perpetrou chacina dos mesmos, está certo o que li?

    - Óia seu doto, juz, era nóis que tava na fita e os manos mando e nóis fumo lá, agora nóis num sabi não quem penetrô na chacrinha.

    O juiz se volta para o juri e diz:

    - Como puderam ouvir o réu confessa o crime...

    Aí entra o advogado de defesa:

    - Protesto!... Meritíssimo!

    - “Vossa Meritíssima persona” está a condenar sumariamente um inocente e cometendo o crime de discriminação linguística contra o meu cliente além de incitar ao cometimento do mesmo crime os senhores jurados.

    - O meu cliente disse apenas que era a vez dele fumar e não a dos irmãos e que não sabe nada sobre a chacina.
Prova C (circunstancial e imaginária)

(1)Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague.
Brasil

***

Legal né?!

A partir destra nova concepção de linguística e vernáculo patrocinada pelo governo federal brasileiro quase ao meio do ano de 2011, qualquer advogadozinho de porta de cadeia e até mesmo sem OAB (pedir o registro na OAB de um advogado pode ser tomado como um ato de discriminação profissional) poderá livrar seus “inocentes” clientes do cumprimento da lei simplesmente usando a lei contra ela mesma.

***

Para encerrar incluí nesta publicação uma apresentação de Chico Buarque da sua música Construção e em seguida a letra completa da mesma feita esta, em um tempo onde escrever bem e certo era uma arte muito bem vista e amada e não um crime.

Esta apresentação foi retirada só site http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45124/

Construção

Chico Buarque

Composição : Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague


mkmouse

(1)Versos das três estrofes finais da música Construção de Chico Buarque

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