segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Manhã de Carnaval*


É outubro e uma segunda feira de cinzas.

O carnaval acabou finalmente.

La fora o silêncio, a serpentina que cai alhures, solitária velada pelo vento, o confete que ora úmido começa a se desfazer no asfalto ainda quente da avenida e como soluços esparsos no tempo, ecoam ainda que distantes e ébrias, canções de um show agora findo.

O Carnaval acabou.

Na avenida, lá longe, mui distante ainda, os garis e “na vida, uma nova canção” vem surgindo não “cantando só teus olhos” mas para encantar todos os olhos, não o “teu riso e tuas mãos” mas os muitos risos e as inúmeras mãos a serem 'molhadas'.

O Carnaval acabou.

É no escuro pano da noite, ora caído mas não findo como é o ato, que arrastam-se rotos alegóricos perdidos, sem rumo mas estranhamente com destino, unidas alegorias vencidas e vencedoras jazem juntas e espalhadas às margens da avenida outrora festiva e iluminada mas agora quase silente por completo, sem vida salvo alguns estertores esparsos e imersa em sua luz natural, mortiça, em cujo negro betume que lhe é o piso, poças d´agua nada refletem, é uma madrugada sem Lua, sem estrelas.

O carnaval acabou.

E a madrugada avança inexorável em direção ao novo dia, poderia não ser este, “pois há de haver um dia em que virás”: o primeiro dia sem um próximo carnaval.

Enquanto este dia, esta hora, não chega eu me deleito no descanso de meus olhos fartos de ouvir o indizível, dos meu ouvidos cansados de ver a escuridão, da minha mente amortecida pelo martelar da propaganda insana onde então, o intelecto livre momentaneamente destes opressivos grilhões de ignorância oficializada, legitimada, imposta como moda, estilo, meio de vida e moral vigente, desperta.

Por momentos apenas, até o amanhecer quiça tão somente, o homem se vê liberto e chora, chora por não ser um bardo a cantar trovas, por não ser um poeta a criar versos, por seus dedos não tangerem uma lira como a de Orfeo, pois se assim o fosse e um violão tivesse diria “das cordas do meu violão que só teu amor procurou”, mas não há violão, o carnaval o levou; se escrever o pudesse escreveria “ vem uma voz falar dos beijos perdidos nos lábios teus”, mas não há letras, a escola se foi para desfilar no carnaval.

Mas neste momento, apenas neste momento, posso cantar e “canta o meu coração alegria voltou” se faz rápida, talvez fugaz, mas o carnaval acabou!

Euridice a muito morta não ouve os cantos de Orfeu nem o som de sua lira e este por sua vez, independente de sua cor, jaz também não menos morto no abismo das insanidades humanas sob os pés quase de barro de um Brahma, menos Brahma e mais Shiva que Vixnu, visto que ali não só sua voz calou-se, como e também a sua lira, partiu-se.

O carnaval acabou...

Meus dedos não produzem nenhuma sonoridade em cordas, não podem levar o acalanto a um Argos exausto, nem levará aos ouvidos críticos de Apolo uma melodia enebriante para recepciona-lo ao horizonte mas mesmo assim ele virá, virá como sempre veio mas agora, apenas e talvez, ouvirá o eco da lira de um Orfeo morto e com isso, fatalmente até quando Deus quiser, trará o primeiro dia de um novo carnaval.

Mas, folguemos por ora, ainda não é dia e a avenida está vazia, só garis ao longe posso ver sem ouvir, o ar é limpo das imundícies da audiência, úmido, cheiroso, fresco e pleno de vida.

Ah... “tão feliz a manhã deste amor”!

...

Olha!

Os dedos róseos de Aurora tocaram o Horizonte, a Noite está partindo levando consigo seu véu azul escuro, quase negro.

Apolo não tardará a chegar em seu suntuoso carro, mas não importa, o carnaval acabou.

...

Ah...

Meu Deus...

Manhã, tão bonita manhã “...

...

O carnaval começou.

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* Os textos em negrito e entre aspas é a letra da música de Luiz Bonfá e Antonio Maria – Manhã de Carnaval (versão interpretada por Agostinho dos Santos), do filme franco-brasileiro Orfeo Negro, Palma de Ouro em Cannes no ano de 1959.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Aparente Lógica do Hoje


Vocês sabiam que a apenas alguns anos atrás, um crime era um crime e apenas isso, ao praticante do ato criminoso era imposta as penas da lei tão somente e nada mais.

A lei, por sinal a mesma de hoje ainda, era severa para com todos e pasmem, o maior problema de quem cometia um crime era a reintegração na sociedade após o cumprimento de sua pena.

Hoje ainda existe alguns vestígios deste problema em alguns rincões distantes do planeta mas, nos locais mais “civilizados”, este tempo no Currículum Vitae do candidato é muito importante para se conseguir o cargo, (eu escrevi cargo, não emprego ou trabalho, estes currículos raramente são para estas opções)

Antigamente um delegado era uma pessoa admirável e a polícia, militar ou não, inspirava respeito, trazia o conforto da segurança a toda a sociedade.

Hoje, um delegado continua sendo um delegado, a polícia continua sendo a polícia e pode parecer que como a lei nada mudou, mas mudou, ambos os três são também massa de manobra não só politico-social como também comercial.

Hoje quem tem sentido o conforto da segurança imposta pela lei (a mesma de antigamente) tem sido os criminosos (também de antigamente) e não a sociedade (aquela de antigamente).

Hoje aqueles não abençoados pela fortuna, pelo poder, pelo patrão ou pela imprensa, se culpados ou não, arcam com o opróbio da desonestidade, do crime, além de pagar o ônus imposto pela lei á força, até que seja comprovada a sua inocência, e isso, apenas quando estes tem alguma forma de se defender, e desde que a sua desonra não sirva a interesses outros, tão espúrios e inconfessáveis como os meandros do crime, da ilegalidade e da luta pela fama ou pelo poder, ou ainda apenas e tão somente, pela audiência que os patrocinadores possam vir a ter com a infelicidade de um ou de muitos, o que por sinal, não tem a menor importância.

Tem me parecido que ser criminoso hoje em dia é ter garantido o beneplácito da lei (vil e devidamente interpretada, distorcida e aceita, por interesses mesquinhos) como também a proteção da polícia e a cobertura “imparcial” da imprensa escrita e falada na garantia dos seus direitos adquiridos, estes por sinal os mesmos da sua vítima, isso tudo sem falar na proteção proporcionada pela religião para a criatura criminosa, esta agora, apenas um convocado das legiões infernais e nada mais.

Me parece também que o alvo do crime (que antigamente se chamava de vítima, hoje ainda sem um adjetivo ou substantivo próprio conveniente) é na realidade o criminoso, e o que ontem era o criminoso (sujeito que cometia um crime) é hoje a vítima.

Ou seja, se a vítima (a de antigamente) não existisse, o criminoso (o de antigamente) não seria “obrigado” a cometer o delito.

Assim sendo, não existindo o delito, ele não seria criminoso (hoje) e se ele não é o criminoso, certamente é a vítima (hoje) por causa da existência, indevida e malvada, da vítima (a de antigamente) a qual é claro, pelo insano ato de existir deve ser, com muita justiça, punida na forma da lei.

Entenderam a aparente lógica do hoje?

Não?!

Eu vou ser mais claro.

Ser vítima hoje, se não for crime é uma questão de estar em evidência, se o caso não for nenhum destes então esta vítima não tem direitos a serem respeitados ou protegidos tanto pela religião, como pela polícia, pela lei ou pela imprensa escrita e falada.

Ser criminoso hoje é uma questão social e não de quebra, descumprimento, da lei como era antigamente.

Como o criminoso só existe em função da lei imposta pela sociedade, fica claro ser politicamente correto que ela seja penalizada por este crime (ter leis) e pelo crime do criminoso (o descumprimento da lei).

Por isso a sociedade deve voltar todos os meios possíveis para a proteção e o bem estar do criminoso (o de antigamente) em detrimento de seu próprio bem estar e de sua própria segurança.

Não esqueçam os meus leitores que criminosos são minorias sociais que precisam ser protegidas da extinção a todo custo, visto serem parte da natureza das coisas, da política e do politicamente correto e também trazem o prestígio seja ele qual for, votos e verbas as mais diversas aos seus benfeitores, estes iluminados em saber e em sabedoria, representantes exclusivos dos Direitos e Direitos Humanos na sociedade.

As maiorias, massas de manobra, que façam a sua parte, cumpram com as obrigações todas que lhes são impostas e depois que se danem mas, não sem antes dar lucro, crescer, multiplicar em número, em ignorância e em delinqüentes, úteis e férteis ao Status Quo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Novo Dólar Furado - Um Bang-Bang quase à Italiana


Eu não consigo entender como o povo de um país com a extensão territorial do Brasil, com todos os recursos que possui pode estar em crise econômica só porque a moeda de um outro país deixou de valer alguma coisa, por causa de uma maciça emissão sem o devido lastro.

E não venham me dizer que isso é mentira, pois a crise norte-americana é por causa do setor imobiliário!

Conversa.

A coisa se resume no seguinte:

Alguns espertos venderam para quem não podia pagar o que comprava.

Transformaram a divida a receber em ações.

Se livraram das ações vendendo-as aos investidores dos EUA e outros “trouxas” que puderam achar em um primeiro momento.

Estes por sua vez quando perceberam o furo em que se meteram, passaram os “papéis podres” envolvidos em tinta dourada e devidamente camuflados para o resto do mundo.

Todos os que passaram os papéis ganharam na venda e converteram o resultado da venda em uma forma de valor diferente da moeda norte-americana, o dólar.

Resultado, o governo para acobertar a imensa expansão do dólar pelo mundo, continua a emitir dólares sem o devido lastro, o que aliás vinha sendo feito já a muito tempo, que eu possa notar, desde a segunda guerra mundial.

A propósito, emitir dinheiro sem o devido lastro, quando é feito pelos Governos não é crime e chama-se Inflação, quando é feito por um cidadão qualquer é crime e chama-se Falsificação.

A dívida hoje dos EUA é em dólares.

O mundo inteiro é credor dos EUA desde que tenham o seu papel moeda como lastro financeiro em seus Bancos Centrais, bem como os papeis das bolsas de valores do mundo que girem em torno do dólar, o qual e por sua vez está não está lastreado como manda a lei, mas sim em dívidas “impagáveis”.

Na minha maneira de ver o dólar é um negócio "furado", e a crise só existe para os investidores espertos que compraram (e compram ainda) dólares bem como os investidores tolos que embarcaram na busca de lucros espetaculares, um "Negócio da China.”

Todos os que tem dólares na mão ou algum tipo de aplicação lastreado em dinheiro americano está "ferrado".

Se é o Brasil que entra numa crise dessa, certamento o Real ia afundar mais rápido que matéria em um Buraco Negro, no entanto como é o Estados Unidos que a “bola da vez” e tem muitos poderosos com dólares e papeis podres nas mãos, não podendo estes sair perdendo nada no horizonte de sua ganância mal orientada, o dólar sobe ao invés de cair como deveria ser.

Só para lembrar a lei de mercado:

Quanto maior a procura maior o preço, quanto menor a procura menor o preço.

Quanto mais raro é a coisa mais caro esta fica, quanto mais comum é a coisa menos vale.

Agora a lógica me leva as seguintes perguntas:

Se há dólar espalhado no mundo inteiro qual é o motivo para a sua subida de preço?

Se o papel não vale nada em lastro (ouro) quem o compraria mais caro sem ser um tolo?

O que eu vejo é só um acobertamento fantástico que só pode partir de pessoas mal intencionadas, inescrupulosas, a fim de lucrar e lucrar muito com a tragédia de tantos americanos envolvidos pelas promessas da realização do “Sonho Americano” e que agora perdem tudo o que tem e ainda ficam devendo. (parece que eu já vi algo assim aqui no Brasil)

O que temos nada mais é que a repetição da quebra da bolsa de valores nos EUA, que aliás é uma “Bola” quem vem sendo “Cantada” a muito tempo e nunca levada a sério, só para lembrar das muitas “bolhas” que já explodiram nesta área capitaneadas inicialmente por empresas americanas.

Inventem o que quiser os “Informados e Eruditos Economêses” do mundo e do Brasil, mas a crua realidade é apenas esta:

Os EUA estão falidos, quebrados, não tem lastro para o resgate dos seus dólares que estão espalhados pelo mundo e está dando o calote nos povos desavisados, ignorantes, e com a conivência de seus respectivos governos, o que me parece muito pouco honesto para com o povo que dizem representar.

domingo, 5 de outubro de 2008

Quem Foi Que Eu Escolhi?



Eu ouvi uma explicação do TSE sobre o voto e entendi o seguinte.

O voto no Brasil tem uma maneira singular de ser, somente a Finlândia tem um sistema igual em todo o mundo, e isso a partir de 1976, enquanto nós votamos da desta maneira desde 1935.

Ficou-me uma dúvida:

Somos avançados demais ou, apenas otários?

Não se esqueçam que o voto eletrônico é uma invenção brasileira que não pega (cola) em nenhum outro lugar do planeta apesar dos esforços que tenho sabido haver.

O que me leva a outra dúvida:

Será que o que eu defini como preferência me foi confirmado só na tela da máquina, quando na realidade os bites da minha escolha foram para outra escolha que não a minha do outro lado da tela?

Não se esqueçam que os programas para computadores (salvo o S.O. da MS que esta acostumado a fazer o quer com a gente) na maioria das vezes fazem o que o programador manda e não o que o usuário quer que seja feito e até onde eu sei, o eleitor é apenas e tão somente, um simples usuário.

Mas, dúvidas à parte, vamos àquilo que realmente move a minha pena nesta data.

O voto em todo o mundo que usa este sistema está ancorado na seguinte premissa:

1-) O partido político elabora uma lista de nomes (da sua escolha) para a ocupação de cargos eletivos pela forma do sulfrágio universal.

2-) É fornecido ao eleitor uma relação de nomes para cada partido político.

3-) Estes nomes estão em uma determinada ordem de hierarquia para a função eletiva.

4-) O eleitor pega uma (ou mais) lista e diz qual a sua preferência para os cargos em questão.

5-) Quanto mais votos o listado tem mais ele sobe na lista em direção ás posições onde é possível a escolha pelo partido (na lista onde se encontra).

Vai daí...

1-) Toda a vez em que você vota em primeiro lugar e antes de qualquer coisa, você escolheu (votou) no partido, quer queira ou não.

2-) O nome que você escolheu se movimentará na hierarquia da lista em função da quantidade de votos que obteve na eleição.

3-) Uma vez finda a eleição, o partido obterá uma quota para a ocupação dos cargos eletivos em causa e se o seu escolhido estiver alto o suficiente na escala da lista para estar entre os escolhidos pelo partido, será eleito.

Certo, e daí?

Qual é a diferença com o quase resto do mundo?

No Brasil é em princípio a mesma coisa, mas dentre as muitas sutilezas que nos diferenciam da urbe planetária, ressalto a seguinte:

O voto no Brasil é proporcional (para a presidência da república não) logo a quantidade de vagas será dividida proporcionalmente pelos partidos envolvidos na eleição, em função da quantidade de votos que obtiveram ao término da mesma (quando há coligações a coisa fica muito mais complicada ainda).

Uma diferença, sutil, está no fato de que no Brasil não há uma lista explícita e sim um nome apenas.

Parte-se do subentendido de que ao se votar em um nome, seja ele qual for, estamos caídos de amores pelo partido ao qual esta forma semântica está ligado!

E daí, qual o problema?

“A roda pega” no fato de que o seu voto não só pode, como e também, elege alguém em quem você não votou.

Vamos partir da hipótese mais simples, não há coligações!

Você votou no candidato CEBOLA do partido A para vereador e depois votou 3 vezes no partido C para senador e 4 vezes no partido D para deputado

Se houvesse apenas do seu voto, o seu vereador seria eleito e junto com ele os outros candidatos dos dois partidos, C e D, que não tiveram nenhum voto, pois o partido vencedor será o D com os seus 4 votos e nesta condição hipotética teria a maioria dos cargos vagos no município, onde certamente colocara os primeiros da lista dele, o partido C tem 3 dos seus votos e terá uma proporção maior que a do partido A com apenas 1 voto

Se você não entendeu ainda vou ser mais claro:

Se houvesse somente 16 vagas a serem preenchidas pelo voto, o partido D teria 8 vagas para si, o partido C teria 6 vagas e o partido A apenas 2 vagas, isso que dizer que você elegeu 15 vereadores com 0 (zero) votos de uma só vez!

Agora imagina isso com alguns milhões de eleitores envolvidos no processo (que eu continuo não confiando) e cada um fazendo a escolha que lhe é própria (sem ter como certificar-se de que o que fez foi realmente legitimado).

E quando há coligações?

Se a coisa já era confusa para o meu entendimento antes, aí quem pergunta sou eu.

No final das contas, quem foi que eu realmente elegi desta vez?


P.S.
Como após as eleições havia um troca-troca de partidos por parte dos eleitos o TSE determinou o óbvio, o cargo é do Partido e não do nome investido no mesmo.