terça-feira, 28 de abril de 2009

A Queimada (adaptação livre)¹


Protegido pelas grossas paredes no fundo de sua toca
Sente no corpo, a roçar, a fímbria da túnica do anjo a passar.
Veio do nada, de lugar algum, e por sua toca passou
Foi como um som que de tão rápido não soou.
Protegido, para a porta se volta, se enrola,
E esta para fora a tudo olha.

Pensa em seus corajosos amigos a vagar la fora.
O vento não açoita mais verdes capinais cujas agrestes moitas
Acoitavam a perdiz, acoça agora marmóreas noites,
Espigões sem fim, pelos lados de estranhos retângulos rola,
Saindo do nada, corre por retas impecáveis,
Passa por vegetais, alinhados, estáticos a marchar!

Minha porta vê longe e eu vejo a minha porta de longe
Aconchego-me mais ao fundo de minha toca
Cujas plúmbeas e frias paredes fujo tocar.
E a porta minha que tudo via, mostrou-me em seu retângulo
O que eu não via... O céu se iluminou e sem listrões vermelhos!

Não era rubro, mas era doido veloz e incandescente
Aquilo que acordou!... Se veio do norte, do sul, do oriente ou do ocidente
Eu não sei... O que sei é que foi um relâmpago branco e quente, depois silêncio.
Um silêncio tão ruidoso que só o grito da boca do inferno fê-lo calar-se.
Ao urro hediondo seguiu-se o bafo infernal curvando das árvores as comas,
E o falcão de asas recurvas, sublima-se no ar agora vermelho!

O estampido estupendo das queimadas, se enrola de quebrada em quebrada
Galopando pelo ar... Ah!... Se tal chama lavrasse qual Jibóia informe
Que no espaço, vibrando a cauda enorme, ferrasse os dentes no chão!
Haveria uma chance em meio à suas rubras roscas que estortegam matas e espigões
A espadanar o sangue das cascatas e das trilhas betumadas da rôta e infeliz polis!...
Haveria uma chance se fosse o leão ruivo, cuja crina atira desgrenhado aos pampeiros dos céus!...

Mas, neste estranho pugilado, o cedro, a casa e o prédio, tombam queimados...
Retorcendo na hecatombe os braços suplicantes para Deus.
É mais que uma queimada, é mais que uma fornalha, é mais que o inferno!...
Não pula a irara, nem a cascavel chocalha, não há espuma na raiva do tapir!
Não há cume, não há rochedo, nem heliporto, não há nada
Onde a corsa e o tigre, náufragos do medo, possam se unir.

Nem mesmo há mais tigres, corsas, jaguares. iraras, cascavéis ou tapires!...
Não há mais como haver um drama, o último... O augusto...
Pois sumiu em um tremor maldito o último ramo do pau-d'arco adusto!
Mas rubro agora é o céu, recresce mais e mais o calor e o fogo em mares...
E a queimar por fora e por dentro, desaparece a vida milenar...
E quase tudo, senão tudo, se acaba no tempo de um simples acenar.



***-***

¹ Este texto é uma adaptação livre para o relato de uma devastação atômica baseado no poema de Castro Alves, A Queimada, poema este que sugiro a leitura.

Esta ficção relata os primeiros acontecimentos e efeitos no espaço de zero a dez segundos após a detonação de um único artefato nuclear baseado na fusão do hidrogênio a seiscentos metros do solo sobre uma cidade do tamanho da cidade de São Paulo nesta data.

O rato, protagonista do conto, estaria morto assim que visse a luz branca por sua porta se estivesse a menos de mil metros da detonação, ainda que, a centenas metros abaixo da superfície.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Uma Apologia à Hipocrisia Internacional

Nós, os ratos, ouvimos e vemos tantas coisas que às vezes, na maioria das vezes, não temos como no momento formar uma opinião sobre o que acabamos de ver ou ouvir.

Isso é normal em nossa espécie, é o que nos mantém vivos pelo padrão natural das coisas, precisamos de mais conhecimento de causa para formarmos o nosso próprio parecer, entre nós a idade é sinal de conhecimento e normalmente acompanhado por sabedoria, quanto mais antigo é o rato, menos ele precisa ver e ouvir para se posicionar de forma correta para sobreviver por mais um dia.

É algo comum em nossa espécie, aprender com os erros dos outros, é a observação e a avaliação racional dela a nossa maneira de prever o futuro e conhecer a verdade, é tão simples fazer isso que um de nossos maiores espantos é o fato de que o mais importante bípede terrestre não faze-lo.

Espero que seja entendido que tudo o que vemos, ouvimos ou sentimos é analisado de conformidade com o conhecimento que temos adquirido em nosso tempo de vida, qualquer coisa viva na Terra e dela oriunda tem esta capacidade como nativa.

Mas nós, os ratos, consideramos todo o que ouvimos ou vemos inicialmente como boatos ou ilusão, mas...

É, tem um mas...

Temos como verdade a seguinte premissa.: Onde há fumaça, ouve, há ou haverá fogo, sempre!

E o que isso quer dizer?

Simples.

Quando olhamos para uma fumaça teremos sempre a certeza insofismável de uma coisa:

Tem algo acontecendo em algum lugar.

Alguma coisa "queimou" e a "fumaça" esta tentando dizer o que foi que está, foi ou será "queimado".

Por isso não acreditamos na maioria das vezes no que vemos ou ouvimos desde que insólita ou discutível em primeira vista, essa "fumaça" pode ter sido carregada pelo vento, naturalmente ou não, e o que vimos pode ser uma simples miragem também natural ou não.

Isso posto, vamos ao ponto.

Estava eu a curtir com sofreguidão os últimos dias de uma indisposição estomacal com todos os efeitos colaterais disponível para este roedor, quando deparei-me a olhar alguém a discursar e outros a andar como em uma fila indiana por sinal muito bem organizada, o que sem dúvidas chamou a minha miserável atenção, naquele momento dividida entre insistentes sensações de desconforto físico e uma telinha mui longe, perdida nos pés da cama, quase uma mancha falante.

O instinto fez o resto.

Foi para um plano inferior os desconfortos físicos, ou seja, ficou no mundo físico apenas e nada mais, ficando livre o intelecto para avaliar a nova informação.

Em poucos segundos, senão frações, sabia o que estava a ver, era o primeiro dia da Conferência da ONU sobre Racismo em Genebra e quem falava era nada mais, nada menos que o presidente do Irâ, o Sr. Mahmud Ahmadinejad e a fila indiana eram os representantes de países europeus e seus escravos, quer dizer, aliados a abandonar a sala de conferências liderados por não menos que a França, sim meus amigos e amigas, a França, é, aquela da Cidade Luz, aquela que aos brados de Liberdade, Fraternidade e Igualdade pôs dantescas hordas de miseráveis nas ruas e separou a cabeça de muitos do resto do corpo em um acerto de contas completo, geral e irrestrito capaz de fazer inveja ao reino de Satã.

De imediato tudo entendi!É assim que funciona o raciocínio dos ratos, apesar de ouvir em outros idionas o que se falava eu sabia, Sr. Ahmadinejad falara algo contra o "Holocausto judeu". Ele podia falar o que quisesse menos sobre este tema. Negar o Holocausto Judeu é crime na Europa.

Pois é, esta foi a gotas d'agua para este rato, a partir daquele momento tornou-se para mim um fato de credibilidade duvidosa a existência Holocausto.

Esta dúvida se ampara em cinco premissas, a saber:

1º Motivo - A fala do Presidente do Irâ foi em um ambiente que observa a lei de livre expressão do pensamento (pensar e falar alí não é crime seja qual for o tema) e o mesmo ao entrar eu vi e ouvi, foi muito aplaudido por todos exceto por um grupo de pessoas com cores da bandeira dos EUA ou da França, sei lá, e fantasiadas de palhaço a atirar os seu narizes no Presidente Iraniano, o que sem sombras de dúvidas e indiscutivelmente é um arremedo, muito mal feito por sinal, do que foi feito com o antigo (Graças a Deus, ou ainda, Que Ala seja louvado por isso) presidente Norte Americano.

2º Motivo - Eu não conheço nenhuma verdade que precise ser imposta por força ou por lei humana para existir e tudo o que tem uma lei para existir, ou só existe pela imposição da força, tem em si mesmo tudo o que é necessário para não precisar existir na natureza, por conseqüência uma miserável falácia, nada mais.

3º Motivo - Como a verdade existe por si só e não precisa de "muletas" para se sustentar pode ser desafiada quantas vezes for que sempre mostrará a mesma face mas, quando a verdade foge ao desafio de identificar-se nega-se a si mesma e mostra a sua face verdadeira face, a falsidade.

4º Motivo - A verdade é sempre a mesma em todo o lugar não importando se é dia ou noite.

E por fim a ironia final, o atentado terrorista feito à minha inteligência, que neste caso foi de um fracasso total.

5º Motivo - Era uma conferência contra o racismo e o racismo é um dos, senão o maior, fruto da intolerância humana, logo todos os países que saíram ou boicotaram a reunião praticaram a intolerância contra o Sr. Mahmud Ahmadinejad e o país que ele representa, no entanto, eles estavam ali exatamente para fazer o contrário, demonstrar tolerância!

Agora culminando com chave de ouro todos os meus motivos para duvidar da existência do Holocausto, enquanto escrevia o meu 2º motivo li a mensagem que transcrevo abaixo (21/04/2009).:

GENEBRA - Mais de 100 países na conferência global da Organização das Nações Unidas (ONU) contra o racismo concordaram com uma declaração que pede que o mundo combata a intolerância.

Isso é no mínimo uma piada, se não for só hipocrisia apenas e tão somente.

Como diria qualquer índio da América do Norte a pouco menos de 100 anos.:

- "Estes homens falam com língua de cobra."

Mateus 3,7

Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera vindoura?