I
O
Inferno
Eis que não tenho
como começar senão sendo dantesco.
(Pego uma banana
com a intenção de descascá-la)
Mas em não sendo eu
um aedo; este Rato, que nem mesmo de longe é um bardo sem Virgílio;
que se uma toga florentina para habitar houvesse tido neste ínterim,
encharcada estaria ela da gola à fímbria, pelo caudal amazônico de
baba que está a jorrar-me em pororocas, pelo queixo que caído está
ante a bestificação máxima que me assola ao ver e se só isso
fosse, os homens que me rodeiam, suas falas e posturas pós-modernas.
(O pedúnculo da
banana quebra, eu teimosamente belisco a casca agarrando-a e a rasgo
puxando-a para baixo até a origem da sua flor.)
Dante
e Virgílio diante da entrada do Inferno. Ilustração de Helder da
Rocha.
Tradução
do Texto da foto
“Por mim se vai à
cidade da dor.
Por mim se vai ao
tormento eterno.
Por mim se vai às
raças malditas.
A justiça moveu o meu
sublime Criador. (isaias:
54,16)
Sou obra do poder
supremo,
Da suma sabedoria do
primeiro amor.
Antes de mim nada
existia senão as coisas eternas
E eu duro eternamente.
Ai de vós que por aqui
passais.
Perdei toda a
esperança.”
Tradução
mkmouse - 24-01-2014
É como me sinto, sem
esperanças e nem mesmo cruzei o umbral da maldição, só ao ver a
quase infinita fila de homens vivos e mortos que saltitantes e
alegremente caminham lado a lado para a danação máxima como se
estivessem ad aeternum, em um nababesco e luxuriante gozo mais
que celestial.
(belisco novamente
um outro lado da casca e a rasgo até se igualar à anterior, a polpa
me parece apetitosa)
Maravilhoso mundo
novo este, onde homens chegam aos píncaros da glória não mais pelo
mérito adquirido através do conhecimento no tempo e da prática, no
cumprimento das regras e das leis mas sim, pelo apadrinhamento
espúrio, ignóbil, mercantil e voluptuoso, fundamentado na
ignorância a qual por sua vez se alicerça solidamente sobre a fome
e a miséria de muitos para o benefício de uns poucos.
(Desce a terceira
parte da casca até o ponto de origem da flor e a quarta parte nem
mesmo lá chega, contemplo salivando a polpa macia.)
E pensar que ontem o
papa, la no centro do império romamo, disse em alto e em bom tom
para quem quisesse ouvir e escrever que a internet era uma criação
divina.
É...
E quem sou eu, além
de um simples sobrevivente, para contestar qualquer representante de
Deus na Terra mas convenhamos, a internet está mais para uma mistura
do fogo de Prometeu com a caixa de Pandora do que para uma dádiva
celestial.
Olha, se a internet
definitivamente não for a mais bem sucedida e artística obra de
Belzebu, o preferido de Lúcifer é sem duvida um presente de Grego
para quem quer que seja o destinatário, um presente dos Deuses para
os malvistos Titãs ou, pior ainda, um presente de Deus sabe quem
para os homens do seu secto cá na Terra.
Claro está, para
este parvo Rato, que os verdadeiros homens de bem, continuarão sendo
homens de bem mesmo que estejam nas maiores profundezas do Hades,
pois seguramente este não os afetará em sua integridade moral, em
seu caráter, em sua perseverança e na sua fé. (isaias:
54,17)
Ilustração
medieval do inferno no Hortus deliciarum, manuscrito de Herrad
de Landsberg (cerca de 1180).
?
Ah?!
É você...
Você; aquele que
agora me empresta os olhos mas não os ouvidos.
Ficai feliz com isso,
como eu estou, pois se chegastes até aqui, tenhais certeza que
fazeis parte de uma minoria neste mundo, pois não escrevo para ser
lido mas porque gosto, porque me faz bem, posto que em caso contrário
estaria eu a defecar frases desconexas no Twitter, nos Mensengers da
vida ou quiça tentando ser ridículo no Facebook e não aqui neste
blog, como e também, no meu site.
Agora que sabeis ser
uma minoria, já podeis requisitar os direitos que tal situação
social lhe garante por estas terras, o direito de ter direitos aos
montes e nenhuma obrigação como contrapartida.
Forme uma ONG para
poder entender psicologicamente o porque que aberrações como eu
ainda existem, o governo subsidia ONGs ou, solicite algum ajutório
governamental por ser uma minoria étnica, aquela minoria que lê os
textos do Rato; vai firme que dá certo; junte-se aos outros que além
de você também são aptos para qualquer leitura, pois usam jornais
para ler, saber o que rola pelo mundo e não para limpar os ânus.
Tem o,,,, tem a..,
tem mais é..., ah! É o, o...., tem...?
...Quer saber...
Deixa pra lá.
Seja livre.
Pense por si
mesmo(a), isso é tudo o que o status
quo não quer que aconteça.
(Enquanto falava
com você, degustei o restante de minha fruta tropical mesmo sem nada
saber nada do seu passado; esqueci-me até de perguntar para a
bananeira mãe, uma ilustre desconhecida minha e nossa, o tempo de
validade do seu produto; mas agora já foi, vou ter que esperar pelo
trato intestinal para saber o que é que eu realmente comi desta
vez.)
Na infindável fila
que contemplo do alto morro do meu tempo, saltitante e alegremente,
vejo trilhando o caminho das raças malditas os escritores de temas
contratados ou formadores de opinião, os modistas e os marqueteiros,
os veneráveis representantes de Deus na Terra e seus sectários mas,
como era de se esperar não são o maior número quando aparelhados
aos comerciantes os mais diversos e é claro, a esmagadora maioria,
os políticos e o seu secto infinito de bajuladores, secretários,
partidários, puxa-sacos e distribuidores de santinhos eleitoreiros.
Satanás
no Nono Círculo do Inferno, por Gustave Doré. Criado entre 1861 e
1868.
Nos círculos
infernais existe um lugar próprio para os hoje reconhecidos como da raça
dos TI, onde se encontram os programadores de todos os tipos,
técnicos em informática indiscriminadamente e todos os donos de
programas e Sistemas voltados apenas a tomada de recursos e ao
ludibrio de tolos usuários por todo o universo.
Satanás não
contente com a ameaça à sua posição no domínio do Inferno,
oriunda da arrogância infinita e quase divina de que esta raça é
portadora e ciente que nem todos os tormentos do inferno, juntos,
seriam suficientes para fazê los desistir de querer ocupar o lugar
que lhe é próprio e único por específica maldição divina,
dedicou-lhes um micho exclusivo sob a sua estreita, constante e direta
vigilância, onde novos e indescritíveis tormentos são recarregados com uma frequência incerta e ignorada, na forma de atualizações do
mais novo sistema operacional de danação do inferno.
Deveras, não é este
Rato um inteirado no uso da palavra escrita, mas com certeza sei
descrever o que vejo ou sinto e nesta imensurável fila estão ainda os piores de todas as raças humanas, aqueles que conhecedores da
verdade calaram-se para poder usufruir de benesses as mais obscuras,
condenando com isso à incondicional vulnerabilidade defensiva um incontável
número de pessoas más e boas; se as primeiras, na infindável fila que vejo, marchavam para
unir-se às raças malditas, estas marcham para a mais completa das
maldições, irão perder tudo, até a individualidade, nem mesmo a
lápide do esquecimento terão por epíteto.
Claro está que este
Rato não está nesta fila, nem pretende estar por lá em tempo algum
sob qualquer pretexto mas, se por ventura, por lá tenha eu que
aparecer em algum momento no contexto da eternidade, que seja ao fim
da fila; que aqueles que estão na minha frente não consigam prosseguir e que depois
de mim não haja mais ninguém pelo que restar do tempo da minha permanencia por ali.
Fontes:-
São Paulo, SP, 24 de
Janeiro de 2014
Mkmouse