Olha só...
Tenho ouvido e visto com muita frequência pessoas com poder de decisão liberando benefícios para outras pessoas levando em conta o seu título e penalizando ou punindo outras em função da falta ou da banalidade do mesmo.
Para quem ainda não entendeu, a coisa é o seguinte:
- Você está louco(a)...?
- Pode liberar, ele(a) é o(a) Bispo(a)(1) XXX.
Ou...
- Você está louco(a)...?
- Quem é esse(a) XXX, para querer isso?
E isto é um problema muito sério, mas muito sério mesmo.
È a prova mais que contundente de que o homem não é mais visto de acordo com seus frutos, mas de acordo com a sua relação social mo meio onde vive.
Eu conheci e conheço lavradores(2) de longa data mais honestos, honrados e leais que todos os reis e imperadores de que tenho e já tive notícia.
Lavrador de café - Portinari. 1934 - Pintura a óleo sobre tela 100 x 81 cm - Museu do MASP, São Paulo, Brasil
No entanto, estas simples criaturas, os lavradores de carreira, não conseguem nada na vida sem terem que passar por inúmeras dificuldades e constrangimentos.
Alhures, no passado e mais à miúde no oriente, tais criaturas eram o repositório do orgulho e do respeito das gerações mais novas; hoje trastes, só servem e agora mais à miúde no ocidente, como entraves às mais “nobres aspirações” governamentais, empilhando-se horizontalmente de forma indiana às portas da caridade pública de mãos abertas e estendidas apenas clamando por mais um alento, mais um sopro de vida.
Graças a Deus tais criaturas em breve, muito em breve, entrarão em faze de extinção irreversível e então o seus lugares serão preenchidos, como já é corriqueiro nos dias de hoje, por pessoas que aceitam o aviltamento da parca e miserável pecúnia governamental, para apenas e tão somente clamar e aos berros e para uma plateia quase sempre cativa e inerte, por direitos que nunca foram seus por mérito mas sim por decreto, usurpação ou ainda por osmose, sem contudo nenhuma obrigação ou dever sequer cogitar a existência e pior ainda, sem nem mesmo pensar em seu cumprimento.
Graças a Deus sim...
Porque quando estas pessoas, guardiãs da essência do que é um verdadeiro homem se for, cruzando os umbrais da boa e velha morte, nada mais restará neste insano mundo que servirá de escudo ou desculpa para a exploração e o aviltamento senão os exploradores e os homens coberto por títulos, por papéis, por papel moeda e por medalhas mil.
Graças a Deus sim...
Porque quando estas pessoas, guardiãs da essência do que é um verdadeiro homem se for, cruzando os umbrais da boa e velha morte, no mínimo estarão voltando à essência de que foram feitos, essência esta que tão bem cultivaram em vida; estarão imersos em honra, honestidade, lealdade e felizes na glória tão duramente conquistada neste mundo quase sem Deus.
Querem saber o que é um título?
Eu lhes digo...
É nada, absolutamente nada.
Um título não é nada para sequer valer um segundo de uma vida, qualquer que seja esta vida.
Títulos foram em um dia e em um remoto passado, uma forma usada pelos homens para se agradecer alguém por se esforçar e via de regra se sacrificar por outrem ou por uma sociedade; o título era uma forma de gratidão, de reconhecimento e quiça de pagamento por uma dívida cujo valor inestimável não poderia jamais ser pago pela sociedade, então humana.
Títulos nos dias de hoje nada mais é que uma forma de tornar capaz um incapaz, de rotular como verdade uma mentira, uma maneira de perpetuar a ignorância dos fracos e a arrogância dos fortes; antigamente eram pagos pelo mérito de seu ganhador hoje, são comprados pela força e pelo poder do demérito de seu comprador pelas mais diversas formas e maneiras dos integrantes de uma sociedade, então muito pouco humana.
Os prêmios hoje em dia não mais visam incentivar o mérito, o estudo, as boas ações ou os grandes feitos do homem para a humanidade; eles apenas compram consciências, vendem mercadorias inúteis e baratas a preço de uma joia rara, ofuscam com seu brilho fugaz a torpeza dos corações humanos e destrói por sua inconsequência o que a civilização humana pode ter de mais caro.
São Paulo, 06 de março de 2012
Mkmouse
(1) Onde se lê Bispo, deve ser entendido como qualquer título concebido e concedido pelo homem, sob qualquer pretexto.
(2) Onde se lê Lavradores, deve ser entendido como qualquer pessoa que prima por ser trabalhadora (nas mais diversas funções) além de honrada, honesta, leal, cumpridora das leis e de moral ilibada.
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