quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Relativismo da Nossa Verdade e do Nosso Tempo.

    Agora que os princípios básicos da incerteza foram expostos nas duas postagens anteriores fica mais fácil entender a raiz dos conceitos indefiníveis, mas nem mesmo de longe isto trás alguma luz, ou esclarecimento, a algum deles.

    Não ficou nada mais fácil entender o que é a verdade absoluta, mas ficou mais fácil entender o relativismo de tudo o que é conceito primitivo inclusive a verdade.

    Observemos a história por exemplo, ela é uma verdade posto que a história tem como finalidade ser um relato fiel de algo em um período qualquer no tempo e no espaço.

    Tomemos como exemplo, mais uma vez, a história da existência do homem sobre a face da Terra e dentro deste conjunto tomemos, como modelo, o subconjunto que contém o tempo e a região onde ocorreu a batalha das Termópilas (480 AC).

Busto de Heródoto, cópia romana do século II,
no Stoa de Átalo, Atenas

    Tomo como base para o relato da verdade histórica o que foi declarado por Heródoto de Halicarnasso (485?-420AC).

Bodrum, atualmente (antiga Halicarnasso) - Turquia
  
  “O resumo da ópera” é o seguinte:

"Xerxes, King of Persia"
as portrayed by Guillaume Rouille (1553 AD)

    O Rei Xerxes, da Pérsia, resolvera subjugar os povos do Peloponeso ao seu império coisa que seu pai, Dario I – O Grande, não conseguira em 490AC na batalha de Maratona, batalha esta que marca o final da primeira gerra Médica; estes povos estavam (só para variar) em guerra com outras cidades-estado do Peloponeso e para aumentar a confusão era um ano de Olimpíadas e os “estatutos” destes povos rezava que em época de jogos olímpicos as hostilidades entre as polis deixaria de existir, logo o “Rei dos Reis”, como se intitulava Xerxes, deveria se aproveitar desta “deixa” para conseguir o seu intento visto que os povos do Peloponeso deveria oferecer pouca ou nenhuma resistência por força de não estarem nesta época devidamente preparados para enfrenta-lo; era o início da segunda guerra Médica, era verão no ano de 480AC.

    O problema é que Xerxes esquecera-se de foram os gregos que inventaram o “Presente de Grego” quase 1.000 anos antes dele, o qual foi certamente fundamentado nos famosos presentes dos deuses (gregos) para os homens (gregos ou não).

A queda de Troia,
por Johann Georg Trautmann (1713–1769).
Da coleção dos grão-duques de Baden, Karlsruhe.

    As polis vendo-se ameaçadas por uma força “bárbara” abandonaram suas guerras intestinas e uniram-se em uma Liga para combater os persas, esta Liga colocou o rei dos espartanos, Leônidas I, (só Leônidas para os íntimos) no comando das forças de combate da Liga.

    Mas até os fanáticos espartanos (os extremistas alienados da época) sabiam que não tinham forças suficientes para enfrentar o exército dos persas e resolveram estrategicamente dar-lhes combate no desfiladeiro das Termópilas (como queria Atenas).

Uma falange de hoplitas gregos

    E não deu outra, Xerxes “dançou bonito” nas mãos dos gregos por seis dias, até o seu exército dos 10.000 imortais comandados por Hidarnes “se ferrou”, perdeu a sua famosa imortalidade ali e para sempre.

Archers frieze Darius palace Louvre AOD487

    Mas como sempre acontece na história, na vida do homem sobre a face da Terra, no sexto dia apareceu no acampamento persa o Sr. Efialtes (filho de Euridemo) de Mális, mais um desertor e logicamente sob estas circunstâncias, um traidor.

    O “Rei dos Reis” da época, entusiasmado com a nova perspectiva de vitória rápida convocou o que restou dos seus (agora quase) imortais e mandou-os à noite guiados pela “traíra do” Efialtes (com um nome destes só sendo traidor mesmo)  pelo novo caminho para atacar Leônidas pela retaguarda e os Fócios (eta nominho danado), defensores da retaguarda de Leônidas, pegos de surpresa e tarde demais para qualquer reação “deram no pé” deixando, enquanto fugiam, Leônidas ciente “que a vaca tinha ido pro brejo” mais cedo.

    Leônidas I, Rei de Esparta, dispensou os não espartanos da luta e ficou para combater os persas com 300 guerreiros, os famosos 300 de Esparta, foram estes que protegeram a retirada do restante do exercito grego a salvo de uma luta desastrosa.

    Segundo a história todos os espartanos morreram e Xerxes pode por fim seguir o seu caminho em paz; chegou a Atenas, que estava vazia, a saqueou e depois a queimou.

    A briga foi rolando até a batalha naval do estreito de Salamina onde o “Rei dos Reis” virou apenas Rei dos medos-persas e teve que regressar derrotado à Pérsia, no entanto o golpe final dos gregos sobre os persas foi dado na batalha da planície de Plateias na Beócia em 479 AC. (ai eu me pergunto: - Será que havia uma boa plateia naquele dia ali para ver esta novíssima e tão aguardada peça grega?)

Planície de Plateias 479AC

    Fim do “Resumo da Ópera”.

    Agora que vimos um pouco de verdades históricas voltemos ao tema, o relativismo da verdade neste caso, histórica.

    Sob o ponto de vista dos espartanos daquela época (o que tem que ser obrigatoriamente, não existem mais espartanos hoje em dia a não ser em forma de figura semântica)  eles não foram derrotados pelos persas e sim morreram para entrar definitivamente na glória eterna.

 Leônidas nas Termopilas – Jacques Louis David (1814)

   Sob o ponto de vista dos persas os gregos sofreram uma derrota retumbante nas Termópilas.


    No ponto de vista dos componentes da Liga dos povos do Peloponeso, a batalha das Termópilas foi um sucesso, uma vitória, uma gigantesca vitória tática sobre os persas cujo exército lhes era imensamente superior em numero e armas, não só no desfiladeiro das Termópilas mas em todo o Peloponeso.

Monumento erguido a Leônidas I nas Termopilas em 1955DC

    Sob o ponto de vista do “traíra”, o Sr. Efialtes, ele foi o verdadeiro vitorioso pois enquanto os reis brigavam ele se mandava, “na surdina” com o lucro; isto é, se os persas não o mandou para “Os Quintos dos Infernos” ou melhor, para o Hades mais cedo, já que “Os Quintos dos Infernos” só passou a existir, ou melhor ainda, chegou às nossas paragens idílicas abaixo da linha do Equador, com a entrada de Napoleão no senário europeu e consequentemente a chegada do Rei de Portugal ao Brasil; coisas da “Terra Brasilis”.

Ilustração medieval do inferno - Hortus deliciarum
manuscrito de Herrad de Landsberg (≈1180).

    Uma coisa é certa, nenhum deles está errado.

    Todos os envolvidos, cada um deles, disseram a verdade sobre o resultado final daquela batalha no desfiladeiro das Termópilas em 480AC.

    É assim que funcionam as coisas, são sempre os vitoriosos que escrevem ou ditam a história que você deve conhecer, que escrevem ou ditam a verdade que você deve acreditar, só raramente, muito raramente uma vós destoa nesta concordância absolutista, monocromática e cegante, alguém se recusa a permanecer na ignorante inanição patrocinada pelos deuses da época ao seu tempo, ao seu interesse e aos seus plantéis.

Ratazanas vitoriosas escrevendo uma verdade convincente para os seus povos

São Paulo,  23 de novembro de 2011

Mkmouse


terça-feira, 15 de novembro de 2011

E Deus fez a Luz...

  Antes do que foi relatado na postagem anterior (E Deus fez a Segunda escolha), era apenas a Essência; Essência que em um instante de tempo(1) antes do momento atemporal do relato, atingiu todo o seu infinito potencial de conhecimento; foi a partir deste momento até o momento da escolha o teor do relato.

    Agora, o que temos é a consequência da escolha.

    Assim que a escolha foi feita o todo se fendeu (partiu-se) nas infinitas partes que o compõe e estas por sua vez repetiu o feito que a antecedeu e o repassou a cada uma das infinitas partes que compunha o todo original (ora subdividido-se) após a si e isto se repete ate a cegada da parte mais elementar da Essência primordial.

    Neste ponto é a partícula elementar que transforma em temporal o atemporal, em substância a insubstância e em espaço o não espaço sem no entanto perder a sua individualidade.

    Uma vez completado o processo o elemento primordial funde em uma só “coisa” o que dele foi criado e une-se intrinsecamente a eles e a cada um deles; sem no entanto destruir-se, expande-se em focos de luz, sombras e matéria com todos os seus similares, opostos e suas consequências, potencializando tudo até o infinito.

    A partir deste ponto o sentido de tempo, espaço e matéria começa a fazer sentido e a existir dentro do contesto da criação, no instante seguinte a este momento inicia-se o universo em que vivemos.

    Isso ocorreu, ocorre e irá ocorrer em cada uma das infinitas unidades primordiais do todo, da Essência e nenhuma delas cria, criou ou vai criar um universo sequer semelhante a algum outro que existe, existiu ou vai existir.

    Neste ponto as lembranças coletivas mais remotas começam a ceder espaço para as lembranças coletivas da criação e posteriormente, muito posteriormente, os seus arquétipos.

 
Saturne, dévorant un de ses enfants.
Simon Hurtrelle, 1699, Le Louvre

    Estes universos primordiais são como pessoas isoladas em seus mundos; coexistem, sabem da existência uma das outras, podem até se comunicar mas ainda não se tocam ou interpenetram neste estágio e cada um deles contém em si os seus opostos, suas dimensões seus tempos particulares suas leis, suas regras e a sua identidade única.

    E Deus disse:

Faça-se a Luz(2).

 
… E a luz se fez ...

    Quando o clarão da criação se desfez a vida existia e tudo o que fora criado agora é vida, toda a vida que fora criada começa instantaneamente a evoluir, a adquirir conhecimento e cada uma delas ao seu devido tempo, à sua peculiar maneira, começou neste instante a caminhar de volta para casa, para unir-se ao seu conjunto original, atendendo assim ao irresistível chamado do lar, das origens, onde deve chegar um dia, para sempre, trazendo consigo a vivência de um conhecimento, completo, infinito(3).

    Neste momento o todo atemporal, insubstancial e indivisível estará para sempre completo ao infinito; não mais conterá o conhecimento e sim é, foi e será, tudo ao mesmo tempo, o conhecimento.

    Só aí você se descobrirá, se reconhecerá e conhecerá a verdade para então poder escolher:

    Ter todo o conhecimento ou ser todo o conhecimento(4).

(1) Toda a referência a tempo é apenas uma simples e mera figura de linguagem já que falávamos anteriormente e ainda estamos falando de eventos atemporais até quase o fim desta postagem.

(2) As referências a este processo criativo estão de tal forma dispersos pelas mais antigas escrituras e pelo mundo afora que fica muito complexo coloca-los em alguma ordem seja ela qual for;    não me parece prático, e isso para não dizer impossível, no momento ordenar de alguma forma as memórias do inconsciente coletivo da criação.

(3) A partir deste ponto o texto volta novamente a ser atemporal e imaterial como no início.

(4) A Criatura é só um sonho; apenas mais um sonho dentro da realidade fantástica que é o sonho do criador; e é esta criatura, é este sonho, que um dia também se tornará um criador.


São Paulo, 14 de novembro de 2011

Mkmouse




domingo, 13 de novembro de 2011

E Deus fez a segunda escolha.



Pois é...

O que é a verdade?

Esta é mais uma droga de conceito primitivo, qualquer significado para exprimir o pensamento, a visão, o conteúdo que esta palavra encerra sempre resultará em uma contestação de alguma forma em algum lugar.

Mas então porque existem conceitos primitivos?

Ha-há... Isto eu sei explicar!

O conceito primitivo é o resultado mais imediado e concreto da nossa mais completa ignorância sobre um determinado tema.

Gente, não existe nada, mas absolutamente nada em todo o universo da criação que existe, existiu ou está para existir que não possa ser explicado, a questão é o conhecimento completo do universo que esta miserável especie humana não tem e para ser bem claro demonstra estar muito longe sequer de imaginar o que possa ser isso.

No entanto o ato da criação, seja ele qual for, está enraizado no mais intimo das criaturas e apesar de não poder ser exprimido de forma coerentemente lógica e em sua forma irrefutável é do conhecimento geral de qualquer criação as suas mais remotas origens; algumas criaturas podem sentir isso com mais intensidade que outras, mas nenhuma tem a consciência da totalidade do universo em toda a sua extensão, tempo e grandeza.

A verdade para nós é apenas um conceito relativo e assim o será até que a ignorância seja um caráter recessivo em nossa índole, em nossa psiquê, até que ela seja apenas mais um elemento preso em nossa “controlada” caixa de Pandora.

Em um dado momento ou sei lá o que, na sua origem primeva, a criação teve que optar em conter todo o conhecimento ou ser todo o conhecimento.

E parece que a opção escolhida foi ser todo o conhecimento.

Este relato está contado em todas as culturas, até de certa forma coerente e em indiscutivelmente em concordância com suas normas de conduta e entendimento vigentes no momento de sua escrita, e é a visão mais obscura e ancestral de um momento muito forte e coletivo da criação.

No mundo ocidental estes acontecimentos estão narrados de forma menos coerente e definitivamente no tempo errado, no entanto a essência do evento não foi mudada mas ficou muito distante de facilitar o entendimento da realidade além de acrescentar, não sei se por ignorância ou deliberadamente, muitas dificuldades e entraves para o seu entendimento pelas criaturas componentes de seu próprio conjunto no decorrer do tempo e maiores ainda foram estas dificuldades e entraves em determinados espaços físicos, morais e intelectuais no próprio conjunto em causa.

Esta descrição pode ser lida em sua forma simbólica em Gênesis 1,1 a 1,31 e a escolha sobre conter ou ser, de forma ainda muito mais simbólica em Gêneses 3,1 a 3,6.

Já em culturas mais antigas, ou mais evoluídas em tempos tão remotos quanto os tempos das escritas bíblicas originais, quando não bem anteriores a estes, o mesmo evento é contado de forma a tender para o atemporal o que reflete uma maior consciência e conhecimento de causa sobre a realidade do evento em si, mas infelizmente não podem ser claras, o suficiente para um entendimento mais amplo de nossas raízes comuns na criação do universo como um todo, como uma unidade, uma identidade única, pontual e determinada.

Naquele momento, o pontual era o continente, o conjunto que continha tudo o que existiu, existe e está para existir e a escolha é simples:

- Ser o todo com partes únicas ou ser o todo além de o todo em todas as partes únicas.

E obviamente, até para este suricato, Deus fez a segunda escolha.

  
São Paulo, 13 de Novembro de 2011
Mkmouse