Eis que volta este Rato à sua morada, pretendendo contar o que havia visto em sua jornada ao amigo e O encontra a conversar com a natureza e a moldar com a maestria que lhe é própria, peculiar, única.
Aproximo-me em silêncio, espero que Ele me fale.
E eis que sem se voltar para mim, mostrou-me a sua face sorridente e fez-me compreender o seu convite para que eu lhe contasse o que vira.
...
...E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: “Meninos eu vi.” 3
…
E uma luta de morte, travada com sorte, viu este forte um seu amigo de sorte, nada restar.
Pois rubro, do centro à crosta ficou, a negra atmosfera então queimou.
E os pássaros escuros, pintados de luz, ao rubro caíram como fizeram jus.
Do nada ao pó, do pó a lava, da lava ao pó e por fim do pó ao nada.
…
... E eles (os gladiadores) reconheceram o deus onipotente, eles já o haviam visto morto entre os mortos inúmeras vezes, só não o reconheceram nestes momentos, mas viram e entenderam a eternidade que estava à sua espera.
Não havia liga entre as suas carnes e o aço de suas máquinas.
Eram meio homens ou eram meio maquinas?
Eis uma questão de ponto de vista!
Certo, é que a ferramenta dominara a vida, a ferramenta era agora a senhora da vida e naquele momento viram como seria o futuro e suas eternas vidas neste contexto.
Ou não, necessáriamente?!?!
Foi o que pensou, em uníssono, o casal.
Naquele átimo de tempo homem e mulher tudo entenderam, se entenderam e concordaram, ela clamou pela proteção de Deus e ele pisou sobre a cabeça da víbora afundando-a ao nível do piso... Clic!
E tudo fez-se luz...
…
...Então (deus) quando na ponta da plataforma e completamente iluminado mostrou sua face a ambos em um só gesto, viu duas criaturas completamente humanas a olha-lo com espanto (e medo?), viu-se todo-poderoso, senhor da vida e da morte, mestre do universo.
Volta seus olhos para o céu escuro e diz ao seus seguidores e iguais a flutuar no espaço exterior que ele vencera completamente o seu miserável e rebelde serviçal, a sua tresloucada criatura, agora não só a arma final era sua mas tudo, todo o universo agora é seu.
Houve júbilo e relaxamento total no céu entre seus iguais e uma festa impar começara então para todos os vitoriosos.
Voltou seus muitos olhos então para as criaturas que não suas, seus circuitos quiseram neste momento o alarme de proteção acionar para a proteção de si mesmo e todos os seus mas nem mesmo um só e único relê chegou a ser ligado.
Não tinha visto que enquanto uma criatura balbuciava algo, a outra acionara o detonador da arma final que estava bem aos seus pés até ouvir o... Clic!
Foi neste momento que ele, deus, viu que subestimara estas miseráveis e frágeis criaturas, elas o vencera ali e naquele instante, não estavam a adora-lo mas sim a olha-lo com horror e rejeição, ele era o monstro, a aberração, ele era apenas mais um deus em um universo de deuses.
E tudo fez-se luz...
...
Vi meu amigo, dos gladiadores tomar-lhes a essência ainda ao... clic!
Vi tudo fazendo-se luz...
...Vi que rubro, do centro a crosta, ficou e a escura atmosfera então queimou...
...Vi os pássaros negros, pintados de luz, ao rubro caíram como fizeram jus...
...Vejo meu amigo a conversar com a natureza e moldar com a maestria que lhe é própria, peculiar, única...
...Vejo-me aproximar-me em silêncio e esperar que Ele me fale, enquanto o Clic... não terminara ainda a sua efêmera e fugaz existência no tempo que por fim é o meu.
Vejo, que sem voltar-se para mim, mostrou-me a sua face sorridente e eu pude compreender o que via.
3 Texto extraído do livro: Gonçalves Dias, Antologia. Comp. Melhoramentos de São Paulo, Indústrias de Papel (1966), página 168, linhas 481, 482 e 483 do canto X de I-Juca-Pirama. Gonçalves Dias (nasceu em 10 de agosto de 1823 na cidade de Caxias no Maranhão e doente, falece no naufrágio do navio Ville de Boulogne em 3 de Novembro de 1864 voltando da Europa em costas brasileiras já no estado do Maranhão.
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