O Grande Ditador
Ao final do filme, o personagem de Chaplin dá um belo discurso falando de direitos humanos no contexto da Segunda Guerra Mundial.
Segue:
"Sinto
muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício.
Não
pretendo governar ou conquistar quem quer que seja.
Gostaria
de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos
nós desejamos ajudar uns aos outros.
Os
seres humanos são assim.
Por
que havemos de odiar e desprezar uns aos outros?
Neste
mundo há espaço para todos.
A
terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
A
cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas
do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria
e os morticínios.
Criamos
a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A
máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos
conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos
e cruéis.
Pensamos
em demasia e sentimos bem pouco.
Mais
do que de máquinas, precisamos de humanidade.
Mais
do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem
essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A
aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais.
A
própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do
homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos
nós.
Neste
mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo
afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas...
vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera
inocentes.
Aos
que me podem ouvir eu digo:
“Não
desespereis!
A
desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da
cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do
progresso humano.
Os
homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que
do povo arrebataram há de retornar ao povo.
E
assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados!
Não
vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos
escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos
atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos!
Que
vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação
regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como
bucha de canhão!
Não
sois máquina!
Homens
é que sois!
E
com o amor da humanidade em vossas almas!
Não
odieis!
Só
odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os
inumanos!
Soldados!
Soldados!
Não
batalheis pela escravidão!
Lutai
pela liberdade!
No
décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de
Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de
homens, mas dos homens todos!
Está
em vós!
Vós,
o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de
criar felicidade!
Vós,
o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la
uma aventura maravilhosa.
Portanto
– em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos
nós.
Lutemos
por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de
trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É
pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder.
Mas,
só mistificam!
Não
cumprem o que prometem.
Jamais
o cumprirão!
Os
ditadores liberam-se, porém escravizam o povo.
Lutemos
agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim
à ganância, ao ódio e à prepotência.
Lutemos
por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso
conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia,
unamo-nos!
(
segue o estrondoso aplauso da multidão ).
Então,
dirige-se a Hannah :
Hannah,
estás me ouvindo?
Onde
te encontrares, levanta os olhos!
Vês, Hannah?
Vês, Hannah?
O
sol vai rompendo as nuvens que se dispersam!
Estamos
saindo da treva para a luz!
Vamos
entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão
acima da cobiça, do ódio e da brutalidade.
Ergue
os olhos, Hannah!
A
alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o
arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah!
Ergue
os olhos!."
São Paulo, SP, 07 Março de 2016
Mkmouse